A pressa para receber um diagnóstico psicológico
Vivemos em um mundo em que o relógio é nosso principal companheiro. Basicamente, temos pressa para tudo na vida. Tomamos café da manhã olhando para o relógio e calculando em quanto tempo iremos nos deslocar de um ponto da cidade a outro para um compromisso. Durante o almoço, olhamos nossos e-mails e checamos os extratos bancários. E assim segue o dia.
Quando temos um problema físico, a sensação de desespero, a dor e seus vários tipos de desconfortos limitantes nos fazem praticamente exigir dos médicos uma cura imediata. Chamamos isso de ‘Furor Curandis’, um ímpeto desesperador que nos leva a atropelar o relógio e elevar o médico ao altar mais desejado dos tronos divinos.
Mas quando se trata de sofrimentos psicológicos, a dimensão é bem diferente. Primeiramente, porque a dor é na alma (na tradução, alma significa Psique). Em segundo lugar, muitas vezes, esse sofrimento é subjetivo, ou seja, pertence ao nível mais íntimo do indivíduo.
Além da subjetividade, o sofrimento psicológico não é estático, pelo contrário, apresenta uma dinâmica de conflitos internos, por meio de emoções ou de pensamentos que levam o sujeito, em vários casos, a realmente sentir dores físicas.
A multiplicidade de fatores que compõem a vida de um sujeito (biológicos, psicológicos e sociais) exige que o diagnóstico psicológico seja feito com critério, pois devem ser observados diversos fatores ligados ao sofrimento do sujeito, bem como suas possibilidades de reorganização e de solução dos problemas.
Assim, o ‘Furor Curandis’, ou seja, o desejo abrupto pela cura quando um sofrimento nos atinge, deve ser evitado quando se trata do diagnóstico e do tratamento dos sofrimentos psicológicos. A pressa, pode levar o paciente a chegar ao consultório ciente de que tem determinado problema e é muito provável que ele espere que o Psicólogo confirme o “diagnóstico”. Não é raro o indivíduo autointitular-se ansioso, depressivo ou bipolar depois de ler um texto ou participar de um fórum na internet. Já no consultório, na primeira consulta/sessão, o paciente pode frustrar-se ao ouvir que é cedo para uma conclusão.
O Psicólogo precisa de tempo para conhecer o indivíduo e compreender o que cada “sintoma” que ele apresenta realmente significa. O profissional “não tem bola de cristal”, nem possui um equipamento de raio-X que aponte qual é o verdadeiro problema do paciente. É necessário que o Psicólogo crie vínculo com o paciente e que o indivíduo transforme em palavras seu sofrimento, seu sintoma. O diálogo é a força que move essa relação empática e que leva à compreensão do sofrimento e, consequentemente, ao diagnóstico e posterior tratamento.
Prof. Dr. Rodrigo Otávio Fonseca