A ansiedade é como um caixeiro viajante. Passa por várias estações mas, de fato, não tem lugar próprio. É solitária por natureza. Precisa ser assim para não se alojar como uma inquilina desagradável.
Também é como um mar revolto sem as encostas de pedra. É mar aberto de ondas perigosas que vêm até nossos pés disfarçadamente, suaves, mas retornam revoltas nos jogando violentamente para o fundo.
A ansiedade faz isso com nossos pensamentos. Vem com sua fúria e não escolhe o momento. Vem e leva para o mar. Quando, em um olhar desesperado, encontramos uma porção de sentido no mundo, algo gélido surge nas veias, sentimos aquele frio na espinha e a ansiedade rompe os elos, expondo nossa fragilidade de existir.
A paz não é inteira. É um grão de momento, um tempo a ser digerido como infinito em um universo de pensamentos e afetos sem respostas. É surpreendente como a ansiedade apresenta uma espécie de elasticidade. Quando a sentimos, dirigimos todo o foco ao objeto que a determina (um acontecimento, por exemplo). Pensamos de forma sufocante, tentando controlar ao máximo aquela situação, dominar aquele instante, prever (e prevenir) o futuro.
Nessa ilusão descabida, a vida segue, o acontecimento se sucede e, mal conseguimos um minuto de paz, uma fresta de luz na janela, novamente ela chega, determinando outro ponto, outra situação preocupante. É como se estivéssemos em um labirinto de espelhos. A cada suspeita de que a saída está próxima, o reflexo do próprio rosto aponta para o engano. É preciso voltar, repensar todo o trajeto, suportar a frustração e recomeçar.
Outra reação possível é correr, procurar uma saída desesperadamente. É o que se faz diante de um estado paralisante, com o coração acelerado e o suor escorrendo pelo corpo. A sensação de sufocamento nos invade e o ar fica cada vez mais rarefeito.
A capacidade que a ansiedade tem de nos fazer sentir incapazes frente ao mundo é, por vezes, tão forte que é inevitável sentir culpa sem ter sensações amargas de fracasso, que se infiltram nos pensamentos estagnando nossas ações. Mas todo labirinto tem entradas e saídas.
Somos seres de relações. Nos relacionamos com tudo! Mesmo essa fúria chamada ansiedade tem uma face inspiradora, estimulante, capaz de imprimir algum tipo de vigor aos nossos passos. Afinal, não seria a vida um imenso labirinto?
Prof. Dr. Rodrigo Otávio Fonseca