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Não existe situação mais angustiante do que estar diante de outra pessoa e do desejo dela pela morte.

A sensação de impotência diante desse desejo alheio nos coloca na iminência constante da perda de alguém significativo em nossas vidas. Alguém que vê na morte o único recurso para por fim a um sofrimento insuportável.

Para aqueles que estão nesta situação, cabe o conselho de não recuarem frente à sensação de impotência. É importante acreditarem que podem ajudar e salvar o outro, que podem livrá-lo das tramas do pensamento suicida.

Existem muitos mitos em torno do suicídio que precisam ser quebrados. Em toda experiência como essa, existe um sofrimento mental que deve ser tratado, um sofrimento marcado por um desejo confuso de ceifar a vida como última alternativa.

Em muitos casos, isso altera radicalmente a forma como o sujeito percebe a realidade e nada tem a ver com uma necessidade de chamar a atenção dos familiares. Quando sofremos de maneira intensa e dolorosa, mostramos os sinais, apontamos nossas ideias, buscamos desesperadamente um diálogo.

É preciso ter sensibilidade na presença do outro para perceber o pedido de socorro, para notar que muitas das melhoras repentinas podem ser sinais perigosos e disfarçados de algo pior.

E o mais importante: falar sobre suicídio não aumenta os riscos de ampliar a incidência de casos. É por meio de conversas a esse respeito que muitas angústias e pensamentos podem ganhar outro sentido.

É preciso vencer o medo da morte de quem amamos para que possamos buscar o melhor caminho para reconstruirmos o significado da vida: da vida do outro (que precisa da nossa ajuda) e da nossa.

Prof. Dr. Rodrigo Otávio Fonseca


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A ansiedade é como um caixeiro viajante. Passa por várias estações mas, de fato, não tem lugar próprio. É solitária por natureza. Precisa ser assim para não se alojar como uma inquilina desagradável.

Também é como um mar revolto sem as encostas de pedra. É mar aberto de ondas perigosas que vêm até nossos pés disfarçadamente, suaves, mas retornam revoltas nos jogando violentamente para o fundo.

A ansiedade faz isso com nossos pensamentos. Vem com sua fúria e não escolhe o momento. Vem e leva para o mar. Quando, em um olhar desesperado, encontramos uma porção de sentido no mundo, algo gélido surge nas veias, sentimos aquele frio na espinha e a ansiedade rompe os elos, expondo nossa fragilidade de existir.

A paz não é inteira. É um grão de momento, um tempo a ser digerido como infinito em um universo de pensamentos e afetos sem respostas. É surpreendente como a ansiedade apresenta uma espécie de elasticidade. Quando a sentimos, dirigimos todo o foco ao objeto que a determina (um acontecimento, por exemplo). Pensamos de forma sufocante, tentando controlar ao máximo aquela situação, dominar aquele instante, prever (e prevenir) o futuro.

Nessa ilusão descabida, a vida segue, o acontecimento se sucede e, mal conseguimos um minuto de paz, uma fresta de luz na janela, novamente ela chega, determinando outro ponto, outra situação preocupante. É como se estivéssemos em um labirinto de espelhos. A cada suspeita de que a saída está próxima, o reflexo do próprio rosto aponta para o engano. É preciso voltar, repensar todo o trajeto, suportar a frustração e recomeçar.

Outra reação possível é correr, procurar uma saída desesperadamente. É o que se faz diante de um estado paralisante, com o coração acelerado e o suor escorrendo pelo corpo. A sensação de sufocamento nos invade e o ar fica cada vez mais rarefeito.

A capacidade que a ansiedade tem de nos fazer sentir incapazes frente ao mundo é, por vezes, tão forte que é inevitável sentir culpa sem ter sensações amargas de fracasso, que se infiltram nos pensamentos estagnando nossas ações. Mas todo labirinto tem entradas e saídas.

Somos seres de relações. Nos relacionamos com tudo! Mesmo essa fúria chamada ansiedade tem uma face inspiradora, estimulante, capaz de imprimir algum tipo de vigor aos nossos passos. Afinal, não seria a vida um imenso labirinto?

Prof. Dr. Rodrigo Otávio Fonseca


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