Atendimento:Seg - Sex das 8h às 12h | 14h às 20hEMAIL:[email protected]
blog-Cicloset.com_.br-experiencia-invisivel-do-panico-1200x960.png

Em uma sociedade sedenta por exigências, o sujeito vive praticamente em realidades paralelas. De um lado, estão seus desejos e, do outro, a inibição dos mesmos. Realização e inibição caminham lado a lado e se cruzam justamente quando a realidade impõe condições de escolha. Dou vazão ao desejo ou o reprimo?

Freud, em um brilhante artigo chamado “O mal estar na civilização”, destaca o quanto nossa condição de sobrevivência frente à civilização está na renúncia das pulsões (força propulsora da psique). Assim, administrar os limites e excessos é condição inescapável da neurose.

A cultura faz esse jogo e, como resultado, os sintomas psíquicos também sofrem suas mutações. Um exemplo claro está nos sintomas depressivos. Décadas atrás, a depressão se confundia com uma certa melancolia da vida cotidiana. Como consequência, a depressão tornou-se objeto de poemas e peças teatrais. As obras tinham a tristeza profunda como pano de fundo para as manifestações do trágico. Atualmente, a depressão é um transtorno mental, “doença” a ser tratada, medicada e analisada com condições técnicas e planejamentos terapêuticos variados.

Outro exemplo? A histeria. No final do século XIX, várias manifestações somáticas (contrações corporais, gritos desesperados, desmaios e convulsões), principalmente nas mulheres, viraram objeto de estudos e de teses. Os estudos giravam em torno da loucura como condição do corpo, dos órgãos doentes, dos neurônios comprometidos e da sexualidade reprimida. Mas, agora, falar da histeria é cruzar os terrenos do mal estar existencial, das insatisfações e frustrações frente ao mundo.

O pânico, nome dado a um transtorno de ansiedade cujos sintomas de medo surgem abruptamente e causam desconforto intenso (além de outros sintomas, como palpitações, sudorese, sensação de morte iminente etc.), se apresenta como uma condição fortemente marcada pela modernidade, diferentemente de outros quadros clínicos. E mesmo seus traços tendo sido identificados já na década de 1960, com o nome de neurose de guerra (traumas agudos vividos pelos soldados nas batalhas da primeira e da segunda guerra mundial), o pânico, nos dias atuais, se fixou como umas das vivências mais agudas e dramáticas do mal estar humano, porque o sujeito não consegue encontrar recursos para sobreviver à tão faminta civilização.

A crise de pânico revela a experiência mais profunda e abissal do medo: a iminência da morte, a parada do corpo e o descontrole total. Muitos relatos de pacientes demonstram o quão insuportáveis são os minutos de sofrimento e de desrealização, sensação em que o sujeito se vê fora do corpo ou aquela sensação em que seu entorno (a realidade) é irreal, bizarro ou absurdo.

Dessa forma, o pânico configura como a ponta mais aguda do rochedo dos transtornos mentais, justamente por sua capacidade adaptativa às constantes mudanças da modernidade. Isso também se dá porque o pânico faz, daquele que padece do transtorno, um sujeito invisível a si mesmo, um ser fantasmagórico, um habitante de um outro lado da vida que tem a comprovação empírica de que a morte está mais perto do que pensamos.

A boa notícia é que os tratamentos atuais são capazes de transformar o pânico em algo menos assustador do que imaginamos. Resta ao portador do transtorno se dar a oportunidade de realizar tal transformação.

Prof. Dr. Rodrigo Otávio Fonseca


Ansiedade-2a-sugestao-de-imagem-1200x798.jpg

A ansiedade é como um caixeiro viajante. Passa por várias estações mas, de fato, não tem lugar próprio. É solitária por natureza. Precisa ser assim para não se alojar como uma inquilina desagradável.

Também é como um mar revolto sem as encostas de pedra. É mar aberto de ondas perigosas que vêm até nossos pés disfarçadamente, suaves, mas retornam revoltas nos jogando violentamente para o fundo.

A ansiedade faz isso com nossos pensamentos. Vem com sua fúria e não escolhe o momento. Vem e leva para o mar. Quando, em um olhar desesperado, encontramos uma porção de sentido no mundo, algo gélido surge nas veias, sentimos aquele frio na espinha e a ansiedade rompe os elos, expondo nossa fragilidade de existir.

A paz não é inteira. É um grão de momento, um tempo a ser digerido como infinito em um universo de pensamentos e afetos sem respostas. É surpreendente como a ansiedade apresenta uma espécie de elasticidade. Quando a sentimos, dirigimos todo o foco ao objeto que a determina (um acontecimento, por exemplo). Pensamos de forma sufocante, tentando controlar ao máximo aquela situação, dominar aquele instante, prever (e prevenir) o futuro.

Nessa ilusão descabida, a vida segue, o acontecimento se sucede e, mal conseguimos um minuto de paz, uma fresta de luz na janela, novamente ela chega, determinando outro ponto, outra situação preocupante. É como se estivéssemos em um labirinto de espelhos. A cada suspeita de que a saída está próxima, o reflexo do próprio rosto aponta para o engano. É preciso voltar, repensar todo o trajeto, suportar a frustração e recomeçar.

Outra reação possível é correr, procurar uma saída desesperadamente. É o que se faz diante de um estado paralisante, com o coração acelerado e o suor escorrendo pelo corpo. A sensação de sufocamento nos invade e o ar fica cada vez mais rarefeito.

A capacidade que a ansiedade tem de nos fazer sentir incapazes frente ao mundo é, por vezes, tão forte que é inevitável sentir culpa sem ter sensações amargas de fracasso, que se infiltram nos pensamentos estagnando nossas ações. Mas todo labirinto tem entradas e saídas.

Somos seres de relações. Nos relacionamos com tudo! Mesmo essa fúria chamada ansiedade tem uma face inspiradora, estimulante, capaz de imprimir algum tipo de vigor aos nossos passos. Afinal, não seria a vida um imenso labirinto?

Prof. Dr. Rodrigo Otávio Fonseca


Texto-2-corpo-sofrimento-BLOG-CICLOS-1200x960.png

Na atualidade, a dimensão do sofrimento psíquico vem ganhando importância no nosso cotidiano. As diversas formas de sofrer têm relação com o sujeito e seu corpo. É sabido que o corpo e psique se entrecruzam. Nosso corpo acusa o golpe de uma dor e a psique consequentemente reage com nossas angústias impensáveis, ocasionando, assim, vários tipos de sintomas somáticos.

Quando Freud formula seu conceito de ego em meados de 1923, a função do corpo e dos seus limites e contornos ganha fundamental importância. Segundo ele, ego é, acima de tudo, um ego corporal. O sofrimento psíquico representa, sob essa ótica, um processo de desorganização de nossas principais funções: pensamento, afeto, percepção, memória etc.

Tal desorganização tem um DNA próprio: apresenta uma dinâmica que se baseia nas condições constitutivas de cada sujeito, ou seja, cada um desenvolve seu “contrato” com o sofrimento conforme sua história de vida. O que isso significa? Significa que, por trás de todos os sintomas que conhecemos (fobias, depressões etc.), existe um sujeito que não consegue compreender o sentido de todo o padecer. A ausência de compreensão, a dificuldade de pensar a esse respeito e as confusões emocionais formam uma teia rígida na qual ele se prende.

É sabido clinicamente que buscar a compreensão e o sentido do sofrimento requer do sujeito esforço e gasto de energia. Contudo, a experiência corporal é fundamental para concebermos um fundamento de sentido para nossas angústias. Isso significa que, para conhecermos melhor nosso sofrimento, é importante também entender cada experiência sentida pelo nosso corpo, o que o corpo pode traduzir por meio das dores, alívios, tremores, chaqualhões.

Lembre-se sempre de que sua voz precisa ecoar e ser percebida (e intuitivamente sentida) como parte integrante de um processo de busca de sentido para a vida.

Prof. Dr. Rodrigo Otávio Fonseca


Ciclos 2024. Todos os direitos reservados.

Abrir bate-papo
Olá 👋
Como Podemos ajudar?