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Em um dos escritos mais interessantes de Freud, Uma Introdução ao Narcisismo, o pai da Psicanálise descreve o quanto uma dor de dente, quando realmente atinge aquele ponto absurdamente insuportável, toma nossa psique de tal forma, que não conseguimos pensar em mais nada. O pensamento se concentra naquela forma dental a pulsar e doer constantemente, de modo que nosso narcisismo não é capaz de distribuir-se para outros afazeres do mundo externo.

A dor tem essa natureza ambígua e, ao mesmo tempo, nefasta. Ambígua porque nos alerta para um mal e, se há um mal, é bom que exista dor para nos alertar. Nefasta porque coloca o sujeito frente ao limite do corpo, à fragilidade de tecidos e órgãos e à finitude da vida, enfim, frente à impotência acompanhada do fracasso.

Como não somos personagens do país fictício de José Saramago (As Intermitências da Morte), onde a morte, de repente, resolveu pedir demissão e desaparecer do mapa, deixando todos os habitantes daquele país em estado de imortalidade, na vida real, a morte e suas vicissitudes (adoecimento, sofrimento, cura, medo etc.) vêm, com certeza, de mãos dadas com a dor.

Toda dor não é tão somente física e não se está falando aqui das dores da alma, dos sofrimentos psicológicos como um todo. É que a dor, em sua mais primitiva origem, no berço do nosso nascimento, já demarca seu território em nosso psiquismo. Isso significa dizer que nossa psique nasce na dor e com ela se desenvolve, aprendendo a lidar de várias formas com os momentos em que o alarme toca e aquela lancinante e aguda pontada, de repente, “dá as caras”.

Nesse ponto é que existe a diferença fundamental entre a sensação bem delimitada da dor e a indefinição que sentimos para determinar aonde esse dor vai nos levar. É essa indefinição aflitiva que chamamos de sofrimento: uma perturbação global, uma emoção mal definida que nos afeta a percepção e, como em uma espécie de ruptura contínua, gera um estado de intensa expectativa em relação ao nosso destino.

A principal saída para que a angústia desencadeada não se alastre é, inevitavelmente, a defesa contra a dor. Portanto, a dor é mais do que o efeito de uma ação física sobre o corpo. A dor é um afeto e, portanto, tem um importante valor psíquico, principalmente quando se trata de indivíduos para os quais a relação entre os limiares de dor e suas reações frente a ela (físicas e psicológicas) são dignas de maiores cuidados.

Prof. Dr. Rodrigo Otávio Fonseca


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Na atualidade, a dimensão do sofrimento psíquico vem ganhando importância no nosso cotidiano. As diversas formas de sofrer têm relação com o sujeito e seu corpo. É sabido que o corpo e psique se entrecruzam. Nosso corpo acusa o golpe de uma dor e a psique consequentemente reage com nossas angústias impensáveis, ocasionando, assim, vários tipos de sintomas somáticos.

Quando Freud formula seu conceito de ego em meados de 1923, a função do corpo e dos seus limites e contornos ganha fundamental importância. Segundo ele, ego é, acima de tudo, um ego corporal. O sofrimento psíquico representa, sob essa ótica, um processo de desorganização de nossas principais funções: pensamento, afeto, percepção, memória etc.

Tal desorganização tem um DNA próprio: apresenta uma dinâmica que se baseia nas condições constitutivas de cada sujeito, ou seja, cada um desenvolve seu “contrato” com o sofrimento conforme sua história de vida. O que isso significa? Significa que, por trás de todos os sintomas que conhecemos (fobias, depressões etc.), existe um sujeito que não consegue compreender o sentido de todo o padecer. A ausência de compreensão, a dificuldade de pensar a esse respeito e as confusões emocionais formam uma teia rígida na qual ele se prende.

É sabido clinicamente que buscar a compreensão e o sentido do sofrimento requer do sujeito esforço e gasto de energia. Contudo, a experiência corporal é fundamental para concebermos um fundamento de sentido para nossas angústias. Isso significa que, para conhecermos melhor nosso sofrimento, é importante também entender cada experiência sentida pelo nosso corpo, o que o corpo pode traduzir por meio das dores, alívios, tremores, chaqualhões.

Lembre-se sempre de que sua voz precisa ecoar e ser percebida (e intuitivamente sentida) como parte integrante de um processo de busca de sentido para a vida.

Prof. Dr. Rodrigo Otávio Fonseca


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