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Somos testados diariamente. Em cada situação, a cada minuto e por cada mínimo comportamento, estamos o tempo todo sob o olhar do outro. Nos dias de hoje, esse tipo de relação vem sendo mais ostensivamente praticado. É claro que esse fenômeno não é tão contemporâneo assim, mas fica evidente o quanto podemos estar passando dos limites nesse aspecto.

As relações humanas vêm agregando múltiplas formas de experiência, já que estamos cada vez mais mergulhados (querendo ou não) nesse mundo hiperglobalizado. Como consequência, somos capturados, convocados e, muitas vezes, coaptados a participar ativamente desse processo, o que ocorre sem questionarmos qual o sentido disso tudo, ou pior, qual o sentido de estarmos vivendo isso tudo

Podemos afirmar que a dimensão desse questionamento divide definitivamente aqueles que se alienam daqueles que se angustiam. Se há alienação, há captura, resignação, aceitação de tudo, pacificação dos conflitos, roteirização da vida. Assim, de certa forma, é possível encontrar algum jeito de preencher os espaços vazios dentro de si com algum tipo de oferta que o mundo hiperexigente lhe oferece: exige-se em troca, evidentemente, extrema dedicação e cumprimento das metas.

Se há angústia, há questionamento e, com isso, vários aspectos da vida não serão vividos sem algum tipo de significado. Viver e buscar sentido para o que está sendo vivido tem agora uma relevância bem mais importante do que propriamente deixar as coisas seguirem seu rumo.

Para quem opta pelo mergulho no questionamento, na busca do sentido de si e da existência, encontrar as dimensões extremas de sofrimento pode resultar em um estado de extremo desespero. Muitas vezes, quando o desespero se transforma na dimensão mais dolorosa vivida pelo sujeito frente às suas problemáticas, o suicídio acaba sendo uma forma de livrar-se de si mesmo e, consequentemente, desse desespero. É um anseio contraditório, segundo o filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard, pois nosso próprio desejo por um estado de repouso e sem conflito acaba nos levando para o extremo desespero.

Diante disso, não há como fugir do desespero, mas é possível entender a dimensão do suicídio como uma experiência atrelada intimamente a uma intensa dor psíquica. Os atos, pensamentos ou planejamentos envolvendo o suicídio parecem ser, naquele momento, a única forma viável de colocar um fim ao intenso sofrimento retido dentro do sujeito.

Essa imensa fonte de energia dolorosa retida, pronta para descarregar, tem uma íntima relação com um excesso de vivências traumáticas às quais não foi possível, para o sujeito, dar atribuição e sentidos. Por esse importante motivo, antes que o suicídio seja colocado em ato, é fundamental dar voz àquele que se sente sufocado.

A tentativa de suicídio, como saída, põe em evidência um ato que precisa ser escutado e historicizado. Por isso, é importantíssima a escuta humanizada do sujeito frente ao suicídio, deixando-o falar sobre sua dor, sem qualquer julgamento ou interpretação. Somente dessa forma poderá advir um sujeito que estará se relacionando honestamente com seus desesperos, sem se deixar vencer por forças alienantes.

Prof. Dr. Rodrigo Otávio Fonseca


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