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Em toda relação humana, as expectativas estão sempre muito presentes. Esperamos, com intensidade, algo vindo do outro. Aguardamos uma correspondência capaz de nos confortar, principalmente nos momentos em que mais precisamos. Isso se deve às nossas feridas narcísicas, perdas sensíveis da psique, espaços vagos que necessitam de preenchimento, preferencialmente de afeto.

Vale mencionar que a ilusão narcísica de completude vem de berço. Ao ser embalado pelos braços da mãe, o bebê quase sempre encontra o conforto físico e psíquico capaz de criar uma zona de ilusão, campo de proteção que mais tarde será confrontado com a realidade. Então, o cobertor não será suficiente para proteger do frio, o seio não oferecerá a quantidade suficiente de leite para saciar a fome etc.

Ao longo da vida, são sucessivas as experiências de desilusão que vão nos ferindo e, com isso, nos frustrando. Portanto, tolerar a frustração é um dos principais modos de estabelecimento de vínculos com a realidade. As relações, quando baseadas nessa tolerância, preservam o respeito e também o limite do outro, bem como facilitam vivências de reparação.

Esse exercício da tolerância requer perseverança e maturidade. Quando esses fatores não se conjugam, quase sempre nos defendemos. Em decorrência, negamos as frustrações e suas derivações (sentimentos de decepção, tristeza, mágoa, ressentimento, entre outros).

A ingratidão pode, portanto, ser considerada uma faceta do vasto campo dos afetos que nos tocam profundamente. Quando há ingratidão numa relação, um não é capaz de demonstrar o reconhecimento devido de dos feitos do outro. O ingrato não só se recusa a viver a experiência da compaixão, da retribuição e da gratuidade, como também ataca tudo aquilo que vem daquele que espera algo em troca, que anseia por amenizar os efeitos de seu narcisismo, já tão ferido pelas desilusões.

A ingratidão, portanto é um afeto pernicioso, algo que se alastra quanto mais amargos nos tornamos, quanto mais fechados em nós mesmos nos tornamos. Com isso, somos cada vez mais capazes de ferir. Na experiência clínica, percebe-se que a ingratidão cria raízes principalmente nas relações familiares e amorosas.

Nas familiares, as teias de ideais construídos entre pais e filhos contrasta com as decepções, os ódios e, consequentemente, com os embates pela busca do reconhecimento. Os filhos desejam cada vez mais alcançar o ideal narcísico dos pais, enquanto os pais idealizam os filhos na esperança (vã) de vê-los se espelharem em seus feitos.

Nas relações amorosas, o que está em jogo é o anseio pelos ideais do amor perfeito. Nesse caso, a paixão se torna o afeto que impulsiona a nostalgia do ideal narcísico perdido. Como seria isso? O homem se torna, então, aquele ser envolto pelo prazer e, a mulher, o símbolo da sensualidade máxima.

Se refletirmos sobre o que disse o psicanalista francês Jacques Lacan, “amar é dar o que não se tem”, perceberemos que jamais vamos conseguir equalizar a reciprocidade de sentimentos entre duas pessoas. Conclusão: o desafio, portanto, é “conseguir dormir com esse ‘barulho’ “.

Prof. Dr. Rodrigo Otávio Fonseca


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Nesses tempos em que o sofrimento psíquico parece ser algo abominável e que é preciso, a qualquer preço, extirpá-lo de nossas vidas, a ideia de viver sem implicações parece ser mais do que atraente. A vida hipermoderna nos oferece a oportunidade da ascensão, mas cobra, em troca, renúncias e repressões. Renunciamos desejos para cumprir protocolos sociais, reprimimos paixões para viver amores artificiais etc.

E tudo isso se dá dentro uma realidade em que o “fora de mim”, ou seja, a realidade e suas opções de prazer, precisa fazer mais sentido do que o dentro de mim. A tendência, cada vez mais progressiva e sombria, é do nosso “dentro” se constituir de um vazio crônico, espaço oco e sem representação.

A vida exige sempre um movimento de dentro e de fora. Formamos um sistema psíquico aberto de trocas com o mundo e, ao mesmo tempo, permutamos com ele nossos desejos. Há sempre rotas e direções em mão dupla. Entretanto, quando fechamos esse sistema, o mundo acaba se tornando o fiel depositário de tudo aquilo que nos intoxica por dentro. Assim, projetamos aquelas partes insuportáveis de dentro de nós no mundo, como uma válvula de escape para um alívio necessário.

A desresponsabilização da culpa, por exemplo, é uma das manobras mais comuns, principalmente porque é por meio da culpa que nos implicamos a pergunta mais significativa em relação ao sofrimento: seríamos nós, e tão somente nós, os responsáveis por nosso sofrer? E seria a dor o resultado de péssimas escolhas que fizemos? Estaríamos a sós com essas escolhas? Sem cúmplices?

É precisamente essa dimensão de vazio e de solidão que faz com que a culpa seja um sentimento tão insuportável a ponto de passarmos a atribuir ao outro, ou a vários outros que nos circundam, parte, ou grande parte, dessa responsabilidade. É uma isenção, certas vezes, calculada pelo sujeito, noutras, desesperadamente projetada.

Enfim, o que verdadeiramente importa é que esse tipo de comportamento tem se tornado muito comum nos dias de hoje e que, infelizmente, tende a se tornar cada vez mais um recurso para aqueles que não suportam o encontro com sua própria verdade.

Prof. Dr. Rodrigo Otávio Fonseca


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Desde a década de 1960, com o lançamento da pílula anticoncepcional, o conceito de vida sexual mudou e as mulheres começaram a ter controle sobre a gravidez. Puderam adiar a vida materna o quanto desejaram. Outros avanços incentivaram as mulheres a planejarem seu futuro e a experimentarem o que antes era exclusivo dos homens: investir na carreira profissional.

Mas passadas algumas décadas, muitas mulheres perceberam que os avanços da medicina não garantiriam a todas elas o direito à maternidade. Não foram poucas as que se frustraram ao constatarem que congelar óvulos e recorrer aos mais modernos métodos de reprodução era um recurso falível para várias delas.

Para aquelas que, por meio de inseminação artificial, de fertilização in vitro ou de outro método científico, conseguiram realizar o tardio desejo da maternidade, uma preocupação provavelmente bateu à porta: os riscos para a mãe e para o bebê durante a gestação, além do risco da criança nascer com um problema debilitante.

Outra preocupação comum tem a ver com a criação do(s) filho(s). Enquanto a maioria das amigas e colegas já está perto de ver os filhos na universidade e até mesmo de ser avó, as novas mamães muitas vezes se sentem novamente inferiores por estarem tardiamente vivendo o que outras já conhecem há pelo menos uma década.

Mas há pesquisas que têm acalmado os corações aflitos das adeptas da maternidade tardia. Alguns estudos apontam que mães que têm filhos mais velhas vivem mais, têm filhos mais altos e mais inteligentes. Outra pesquisa, publicada neste ano pelo European Journal of Developmental Psychology, afirma que a maternidade tardia pode render outros benefícios aos filhos. As vantagens, de acordo com o estudo, seriam fruto da maturidade psicológica das mães. À medida que envelhecem, as mulheres estão menos propensas a disciplinar fisicamente os filhos, diferentemente do que fazem as mães mais jovens.

Uma análise sobre a maturidade e a maternidade tardia

A maturidade é o reflexo de um conjunto de condições que um sujeito apresenta em um dado momento de sua vida: condições físicas, sociais, psicológicas, relacionais etc. Todo esse conjunto não precisa necessariamente estar harmônico, mas sim funcionar de forma a proporcionar um estado de consciência de si e, por conseguinte, um reconhecimento do seu crescimento psíquico.

Muitos psicanalistas, principalmente os de origem Inglesa, apoiam essa tese de que as confluências para o amadurecimento psicológico estão associadas principalmente na forma como se dá o crescimento e o amadurecimento de nossas experiências emocionais. Um interessante exemplo desse processo está no estudo publicado pelo European Journal of Developmental Psychology, mencionado anteriormente.

Segundo o estudo, filhos frutos de gestações tardias tendem a desenvolver menos problemas comportamentais, sociais e emocionais desde o nascimento até a adolescência. Além disso, observou-se também que as habilidades de linguagem, comunicação e desenvolvimento social das crianças foram melhorando de acordo com o avanço da idade das mulheres que optam pela maternidade tardia.

Para além das constatações científicas que corroboram com muitas das observações vividas em consultório, é inevitável constatar que nossa capacidade para escolhas está fortemente vinculada com nossa forma de pensar os principais dilemas e conflitos vividos em cada momento da vida. Pensar é um trabalho que envolve reflexão, avaliação emocional dos efeitos do que está se vivendo e um trabalho constante de significação e ressignificação do sentido de cada vivência.

Constatar que a opção destas mulheres pela maternidade tardia possa estar relacionada com um bom desenvolvimento de seus filhos nos faz ampliar ainda mais o foco para a questão do quanto é preciso um profundo e expressivo contato com nossos projetos de vida, para que possa ser feito exatamente aquilo que se deseja com ele.

Outro ponto que o resultado do estudo pode suscitar é o quanto a mulher de hoje encontrou na maternidade uma experiência de encontro com seu mais íntimo desejo materno, principalmente porque esta mulher ampliou ainda mais seus repertórios de vida, elencou novos projetos e passou a fazer valer o desejo de realizá-los.

Prof. Dr. Rodrigo Otávio Fonseca


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Somos testados diariamente. Em cada situação, a cada minuto e por cada mínimo comportamento, estamos o tempo todo sob o olhar do outro. Nos dias de hoje, esse tipo de relação vem sendo mais ostensivamente praticado. É claro que esse fenômeno não é tão contemporâneo assim, mas fica evidente o quanto podemos estar passando dos limites nesse aspecto.

As relações humanas vêm agregando múltiplas formas de experiência, já que estamos cada vez mais mergulhados (querendo ou não) nesse mundo hiperglobalizado. Como consequência, somos capturados, convocados e, muitas vezes, coaptados a participar ativamente desse processo, o que ocorre sem questionarmos qual o sentido disso tudo, ou pior, qual o sentido de estarmos vivendo isso tudo

Podemos afirmar que a dimensão desse questionamento divide definitivamente aqueles que se alienam daqueles que se angustiam. Se há alienação, há captura, resignação, aceitação de tudo, pacificação dos conflitos, roteirização da vida. Assim, de certa forma, é possível encontrar algum jeito de preencher os espaços vazios dentro de si com algum tipo de oferta que o mundo hiperexigente lhe oferece: exige-se em troca, evidentemente, extrema dedicação e cumprimento das metas.

Se há angústia, há questionamento e, com isso, vários aspectos da vida não serão vividos sem algum tipo de significado. Viver e buscar sentido para o que está sendo vivido tem agora uma relevância bem mais importante do que propriamente deixar as coisas seguirem seu rumo.

Para quem opta pelo mergulho no questionamento, na busca do sentido de si e da existência, encontrar as dimensões extremas de sofrimento pode resultar em um estado de extremo desespero. Muitas vezes, quando o desespero se transforma na dimensão mais dolorosa vivida pelo sujeito frente às suas problemáticas, o suicídio acaba sendo uma forma de livrar-se de si mesmo e, consequentemente, desse desespero. É um anseio contraditório, segundo o filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard, pois nosso próprio desejo por um estado de repouso e sem conflito acaba nos levando para o extremo desespero.

Diante disso, não há como fugir do desespero, mas é possível entender a dimensão do suicídio como uma experiência atrelada intimamente a uma intensa dor psíquica. Os atos, pensamentos ou planejamentos envolvendo o suicídio parecem ser, naquele momento, a única forma viável de colocar um fim ao intenso sofrimento retido dentro do sujeito.

Essa imensa fonte de energia dolorosa retida, pronta para descarregar, tem uma íntima relação com um excesso de vivências traumáticas às quais não foi possível, para o sujeito, dar atribuição e sentidos. Por esse importante motivo, antes que o suicídio seja colocado em ato, é fundamental dar voz àquele que se sente sufocado.

A tentativa de suicídio, como saída, põe em evidência um ato que precisa ser escutado e historicizado. Por isso, é importantíssima a escuta humanizada do sujeito frente ao suicídio, deixando-o falar sobre sua dor, sem qualquer julgamento ou interpretação. Somente dessa forma poderá advir um sujeito que estará se relacionando honestamente com seus desesperos, sem se deixar vencer por forças alienantes.

Prof. Dr. Rodrigo Otávio Fonseca


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“Não quero o que a cabeça pensa, quero o que a alma deseja.”  Belchior

Somos reféns das palavras e, muitas vezes, esse sequestro é muito bem planejado e articulado pelo pensamento. De fato, pensamos demais! É nesse universo confuso de ideias, impressões e afetos que nos perdemos o suficiente para não sermos capazes de transformar tudo isso em voz.

A saída mais perfeita para nossa sanidade: a boca, por onde tudo começou. Dela sorvemos o leite materno e amamos com fervor nosso primeiro objeto de amor: a mãe. É nessa relação que choramos as dores e gritamos nossos desesperos desde a tenra idade, procurando alguém que nos console e nos dê carinho.

Mas quanto mais o tempo passa, mais a vida nos impõe barreiras internas e externas. Somos então forçados a fazer recuos e fechar nossa boca. As palavras agora não têm por onde escapar e se transformam em pensamentos.

Na adolescência, o pensamento abstrato ganha fôlego. Adolescentes são mais calados, retraídos, observam a intensidade do mundo real dentro de um mundo próprio. Os ouvidos são ágeis, os olhos estão atentos para justamente acompanharem a velocidade de seus pensamentos e a agudeza de suas conclusões.

Pois bem, quando os indivíduos se tornam adultos, essa “cabeça que pensa” precisa cada vez mais cumprir os roteiros da vida. A racionalidade das decisões, a coerência e o bom senso, as virtudes do equilíbrio emocional são os componentes dessa “cabeça feita”. E como o mundo de hoje valoriza o pensamento!

Para a Psicologia, o pensamento compõe uma série de outros atributos psíquicos (como a percepção e a atenção, por exemplo) que compõem o que denominamos de cognição. Portanto, para pensarmos é preciso que acionemos uma série de outros mecanismos importantes, sejam eles senso-perceptivos, sejam eles afetivos.

A tarefa não é fácil, já que o mundo imprime a cada um de nós ritmos e exigências que, por vezes, tencionam demais toda essa engrenagem e, com isso, o sofrer passa ser a única alternativa para distender esse elástico.

Então, o melhor remédio para lidar com o sofrer é falar. Aquela mesma boca que sorveu o leite materno, que se calou aos 15 anos na mesa do almoço de domingo com a família e que se desesperou com os pagamentos a serem feitos mensalmente precisa agora urgentemente falar!

Pois é falando que expressamos o que nossa alma deseja e nos libertamos do peso que carregamos em silêncio.

Prof. Dr. Rodrigo Otávio Fonseca


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Não existe situação mais angustiante do que estar diante de outra pessoa e do desejo dela pela morte.

A sensação de impotência diante desse desejo alheio nos coloca na iminência constante da perda de alguém significativo em nossas vidas. Alguém que vê na morte o único recurso para por fim a um sofrimento insuportável.

Para aqueles que estão nesta situação, cabe o conselho de não recuarem frente à sensação de impotência. É importante acreditarem que podem ajudar e salvar o outro, que podem livrá-lo das tramas do pensamento suicida.

Existem muitos mitos em torno do suicídio que precisam ser quebrados. Em toda experiência como essa, existe um sofrimento mental que deve ser tratado, um sofrimento marcado por um desejo confuso de ceifar a vida como última alternativa.

Em muitos casos, isso altera radicalmente a forma como o sujeito percebe a realidade e nada tem a ver com uma necessidade de chamar a atenção dos familiares. Quando sofremos de maneira intensa e dolorosa, mostramos os sinais, apontamos nossas ideias, buscamos desesperadamente um diálogo.

É preciso ter sensibilidade na presença do outro para perceber o pedido de socorro, para notar que muitas das melhoras repentinas podem ser sinais perigosos e disfarçados de algo pior.

E o mais importante: falar sobre suicídio não aumenta os riscos de ampliar a incidência de casos. É por meio de conversas a esse respeito que muitas angústias e pensamentos podem ganhar outro sentido.

É preciso vencer o medo da morte de quem amamos para que possamos buscar o melhor caminho para reconstruirmos o significado da vida: da vida do outro (que precisa da nossa ajuda) e da nossa.

Prof. Dr. Rodrigo Otávio Fonseca


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“O medo ameaça. Se você ama, terá AIDS. Se fuma, terá câncer. Se respira, terá contaminação. Se bebe, terá acidentes. Se come, terá colesterol. Se fala, terá desemprego. Se caminha, terá violência. Se pensa, terá angústia. Se duvida, terá loucura. Se sente, terá solidão”. Eduardo Galeano

O medo sempre será um sentimento necessário. Às vezes, até mesmo um mal necessário. Sentir medo é o mesmo que estar diante de seu próprio abismo. Nietzsche, nos seus aforismos filosóficos, dizia que o abismo nos chama toda vez que olhamos para ele.

Mas olhar para o abismo depende do quanto somos capazes de suportar a angústia inoportuna do medo. São palavras que nos ameaçam, fantasias que nos proíbem ou até mesmo obsessões que nos paralisam. O medo ameaça, impõe obstáculos ao nosso desejo, cria o cenário mais trágico possível para a vida.

Se sinto, tenho solidão, se como, terei colesterol. O medo é o ruído impertinente que levanta o sinal de alerta, que aponta para a culpa e para as consequências. Se tenho a lucidez necessária para enfrentá-lo, talvez seja possível compreender seu lugar e sua função em nossa vida.

O desejo só é desejo se colocado diante da realidade, da esperança de sua realização. O medo só tem sentido de existir quando a experiência do desejo encontra na realidade o caminho para sua satisfação. Quantas vezes nos calamos para permanecer no emprego, comemos o “adequado” para não termos colesterol alto, evitamos sentir por causa do medo de encarar o desamparo e a solidão?

Na psicoterapia, o medo é geralmente visto como a maior das ameaças, pois, quando falamos de nossos sofrimentos, nos deparamos com a terrível angústia de admitir a impotência frente ao medo. A primeira reação é anulá-lo, reprimi-lo, soterrá-lo de forma a permitir um alívio superficial.

Na terapia, o sujeito é convidado a falar sem se preocupar com qualquer julgamento ou crítica. O psicoterapeuta legitima seu paciente a não perceber o medo como uma ameaça e sim como um aliado, como uma parte importante do trabalho de amadurecimento.

Assim, o indivíduo prefere o senso crítico, a consciência dos desafios e, principalmente, a grandeza existente no desejo de escolha.

Prof. Dr. Rodrigo Otávio Fonseca


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Obra sobre encontro inédito de dois reverenciados sucessores de Freud traz novas perspectivas sobre as psicoses

Com duas décadas de experiência como terapeuta e docente de Psicologia, Prof. Dr. Rodrigo Otávio Fonseca acaba de lançar um livro considerado inovador por um dos maiores especialistas brasileiros em Psicanálise, Renato Mezan.

A publicação com 300 páginas lançada nacionalmente em 2024 pela INM Editora, especializada em obras de Psicanalistas, percorre o caminho traçado por Sigmund Freud, o Pai da Psicanálise, e examina sua teoria à luz das notáveis interpretações de dois de seus mais brilhantes sucessores: os psiquiatras e psicanalistas Jacques Lacan e Wilfred Bion.

Intitulada ‘O mecanismo de rejeição (Verwerfung) em Lacan e Bion’, a obra é fruto de estudos de Fonseca iniciados no mestrado (2005-2007) e concluídos no doutorado na PUC-SP (2010-2014), já como pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), agência do governo federal.

Rodrigo explica que “A experiência de realizar um trabalho profundo em Psicanálise foi possível em virtude do processo de formação fornecido pela PUC-SP. Foram quatro anos de apoio e orientação sistemática de meus professores, em especial, meu orientador, Prof. Dr. Renato Mezan. Esse livro é a convergência do incentivo à pesquisa oferecido pela PUC-SP e do subsídio do CNPq”.

A missão do livro vai além de apresentar um estudo aprofundado sobre os dois gigantes da Psicanálise pela perspectiva da relação do inconsciente com a linguagem, abordagem de Lacan, e com o pensar, enfoque de Bion.

A publicação promove um encontro inédito entre os dois psiquiatras nascidos na virada do século XIX para o século XX e impedidos, por obstáculos geográficos e temporais, de terem a oportunidade de debater acerca das abordagens que desenvolveram e sobre os desafios terapêuticos que enfrentaram ao atenderem pacientes com psicose, estado mental em que o indivíduo perde contato com a realidade.

Ambos os psiquiatras estavam profundamente imersos em tradições psicanalíticas distintas e atuavam em círculos profissionais diferentes. Enquanto Lacan revolucionava a teoria do inconsciente na França, Bion desenvolvia seus conceitos sobre dinâmica de grupos e psicose no Reino Unido.

Mas o Psicólogo e Psicanalista Rodrigo Otávio Fonseca, Mestre em Psicologia (Unimarco-SP) e Doutor em Psicologia Clínica (PUC-SP), conseguiu aproximar esses dois mundos conceituais no livro ‘O mecanismo da rejeição (Verwerfung) em Lacan e Bion’, lançado no último dia 23 de junho na Drummond Livraria, no coração financeiro e cultural da capital paulista.

A publicação, que traz novas perspectivas para a prática psicanalítica, chegou para o público dez anos após a defesa da tese na PUC-SP e recebeu orelha de Renato Mezan, renomado Psicanalista brasileiro que orientou Fonseca no desenvolvimento da pesquisa científica concluída em  2014.

A conversão da tese em livro democratizou o conhecimento e o transformou em um recurso acessível para psicólogos, psiquiatras e psicanalistas em formação, assim como para profissionais que desejam se aprofundar no estudo das psicoses, que atingem cerca de 1% da população mundial e podem acometer pacientes com distúrbios mais conhecidos, a exemplo do transtorno bipolar grave.

“Leitor de poetas e dotado da rara capacidade de tratar com clareza assuntos complicados, Rodrigo vai guiando o leitor pelos vínculos do seu tema com outros conceitos psicanalíticos e com os fenômenos clínicos a que eles se reportam”, comenta Mezan.

A ampla disseminação da sabedoria construída é facilitadora da transmutação da teoria em prática e, além de beneficiar diretamente quem lê a obra, ao contribuir para o aprimoramento da prática clínica e até mesmo educacional, favorece indiretamente pacientes e futuros pacientes dos leitores do livro.

Além da livraria Drummond em São Paulo, onde a publicação foi lançada, a obra é comercializada em sites como Amazon.com e https://cicloset.com.br/loja/ , página da clínica do autor do livro em que ‘O mecanismo de rejeição (Verwerfung) em Lacan e Bion’ é vendido com autógrafo.

 

Hellen Morais – Assessora de Comunicação e Marketing – texttou.com


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Somos formados por uma complexa rede de espelhos e refletores.

Contudo, é mais do que simplesmente olhar-se no espelho. É ser visto por outra pessoa, que pode enxergar mais do que o que nós vemos no reflexo, pois ela pode explorar mais ângulos para a observação, mais pontos de vista.

Nesse jogo, a imagem do outro se inscreve em nós e a nossa imagem se inscreve nele. Isso significa que a forma como o outro nos “enxerga” é muito importante. E, ultimamente, esse “olhar” ganhou ainda mais relevância.

Entra aí a expectativa de aceitação pelo outro, o que está atrelado ao pertencimento (a um certo grupo) e à fuga do desamparo.

Assim, em meio a esse anteparo de espelhos, buscamos uma conjunção entre as imagens. Esperamos uma correspondência vinda de outro lugar, isto é, de outra pessoa.

Essa expectativa é essencial na busca por sentido, pois o reconhecimento é o ato inicialmente imaginário (por isso, especular) e, posteriormente, simbólico que nos permite estabelecer relações com o outro. Por meio delas, tecemos as diversas formas de compreensão do nosso desejo.

Também é importante ressaltar que a forma como vemos o outro e ele nos vê provoca mudanças, tanto em nós quanto nele. Cada feedback (e até a ausência dele) pode desencadear uma série de reações.

Passamos a ser como esperamos que seja agradável a quem nos vê. Acreditamos que o reconhecimento amplia os horizontes das nossas realizações.

Ocorre que, em função dos vários papeis sociais que desempenhamos (pois somos, ao mesmo tempo, filhos, irmãos, profissionais, colegas de trabalho, amigos, vizinhos etc.), também nos deparamos com as várias expectativas que nossos pais, chefes, amigos etc. têm em relação a nós.

Atender todas essas expectativas, sendo um bom filho, um funcionário exemplar, um amigo confiável, enfim, atuar para ser aceito por todos pode se tornar um fardo pesado demais. Muitos se perdem de si mesmos nesse emaranhado de espelhos. A solução seria deixar de lado a busca por aceitação, pelo reconhecimento que nos faz estabelecer relações com os outros?

Quando buscamos negar tal reconhecimento, o que podia parecer sadio e geralmente é feito ao se evitar a presença do outro e, consequentemente, a influência que o outro exerce em nós, o reconhecimento se converte no seu negativo: o desconhecimento.

Estar nessa condição, de um sujeito que desconhece o outro, traz à tona sentimentos como a arrogância, em que somente nossos feitos são capazes de ser ostentados e admirados.

Então, é possível experimentarmos a onipotência, sentimento baseado no controle e no domínio do outro, e a onisciência, sentimento ligado ao “tudo saber”.

Mas, ao irmos na direção contrária e entrarmos no terreno do desconhecimento, damos o passo mais curto para o isolamento e o ostracismo. Definitivamente, esse caminho não é a melhor escolha.

Ao mesmo tempo, nesse mundo ambíguo, difuso e, muitas vezes, caótico, é um verdadeiro desafio manter-se na busca pelo reconhecimento sem deixar que a opinião alheia seja a força motriz da sua vida. Encontrar o ponto de equilíbrio é a verdadeira solução.

Prof. Dr. Rodrigo Otávio Fonseca


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Em um dos escritos mais interessantes de Freud, Uma Introdução ao Narcisismo, o pai da Psicanálise descreve o quanto uma dor de dente, quando realmente atinge aquele ponto absurdamente insuportável, toma nossa psique de tal forma, que não conseguimos pensar em mais nada. O pensamento se concentra naquela forma dental a pulsar e doer constantemente, de modo que nosso narcisismo não é capaz de distribuir-se para outros afazeres do mundo externo.

A dor tem essa natureza ambígua e, ao mesmo tempo, nefasta. Ambígua porque nos alerta para um mal e, se há um mal, é bom que exista dor para nos alertar. Nefasta porque coloca o sujeito frente ao limite do corpo, à fragilidade de tecidos e órgãos e à finitude da vida, enfim, frente à impotência acompanhada do fracasso.

Como não somos personagens do país fictício de José Saramago (As Intermitências da Morte), onde a morte, de repente, resolveu pedir demissão e desaparecer do mapa, deixando todos os habitantes daquele país em estado de imortalidade, na vida real, a morte e suas vicissitudes (adoecimento, sofrimento, cura, medo etc.) vêm, com certeza, de mãos dadas com a dor.

Toda dor não é tão somente física e não se está falando aqui das dores da alma, dos sofrimentos psicológicos como um todo. É que a dor, em sua mais primitiva origem, no berço do nosso nascimento, já demarca seu território em nosso psiquismo. Isso significa dizer que nossa psique nasce na dor e com ela se desenvolve, aprendendo a lidar de várias formas com os momentos em que o alarme toca e aquela lancinante e aguda pontada, de repente, “dá as caras”.

Nesse ponto é que existe a diferença fundamental entre a sensação bem delimitada da dor e a indefinição que sentimos para determinar aonde esse dor vai nos levar. É essa indefinição aflitiva que chamamos de sofrimento: uma perturbação global, uma emoção mal definida que nos afeta a percepção e, como em uma espécie de ruptura contínua, gera um estado de intensa expectativa em relação ao nosso destino.

A principal saída para que a angústia desencadeada não se alastre é, inevitavelmente, a defesa contra a dor. Portanto, a dor é mais do que o efeito de uma ação física sobre o corpo. A dor é um afeto e, portanto, tem um importante valor psíquico, principalmente quando se trata de indivíduos para os quais a relação entre os limiares de dor e suas reações frente a ela (físicas e psicológicas) são dignas de maiores cuidados.

Prof. Dr. Rodrigo Otávio Fonseca


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