“Não quero o que a cabeça pensa, quero o que a alma deseja.” Belchior
Somos reféns das palavras e, muitas vezes, esse sequestro é muito bem planejado e articulado pelo pensamento. De fato, pensamos demais! É nesse universo confuso de ideias, impressões e afetos que nos perdemos o suficiente para não sermos capazes de transformar tudo isso em voz.
A saída mais perfeita para nossa sanidade: a boca, por onde tudo começou. Dela sorvemos o leite materno e amamos com fervor nosso primeiro objeto de amor: a mãe. É nessa relação que choramos as dores e gritamos nossos desesperos desde a tenra idade, procurando alguém que nos console e nos dê carinho.
Mas quanto mais o tempo passa, mais a vida nos impõe barreiras internas e externas. Somos então forçados a fazer recuos e fechar nossa boca. As palavras agora não têm por onde escapar e se transformam em pensamentos.
Na adolescência, o pensamento abstrato ganha fôlego. Adolescentes são mais calados, retraídos, observam a intensidade do mundo real dentro de um mundo próprio. Os ouvidos são ágeis, os olhos estão atentos para justamente acompanharem a velocidade de seus pensamentos e a agudeza de suas conclusões.
Pois bem, quando os indivíduos se tornam adultos, essa “cabeça que pensa” precisa cada vez mais cumprir os roteiros da vida. A racionalidade das decisões, a coerência e o bom senso, as virtudes do equilíbrio emocional são os componentes dessa “cabeça feita”. E como o mundo de hoje valoriza o pensamento!
Para a Psicologia, o pensamento compõe uma série de outros atributos psíquicos (como a percepção e a atenção, por exemplo) que compõem o que denominamos de cognição. Portanto, para pensarmos é preciso que acionemos uma série de outros mecanismos importantes, sejam eles senso-perceptivos, sejam eles afetivos.
A tarefa não é fácil, já que o mundo imprime a cada um de nós ritmos e exigências que, por vezes, tencionam demais toda essa engrenagem e, com isso, o sofrer passa ser a única alternativa para distender esse elástico.
Então, o melhor remédio para lidar com o sofrer é falar. Aquela mesma boca que sorveu o leite materno, que se calou aos 15 anos na mesa do almoço de domingo com a família e que se desesperou com os pagamentos a serem feitos mensalmente precisa agora urgentemente falar!
Pois é falando que expressamos o que nossa alma deseja e nos libertamos do peso que carregamos em silêncio.
Prof. Dr. Rodrigo Otávio Fonseca